Stella Nyanzi
Must One First Fall Mad?
In this god-forsaken country
The mouths of men are silent.
Fear keeps them immobile.
The courage of women is dimmed.
Their children are dead or in prisons.
They say that I am insane
Because I publicly speak truths
That angels dare not whisper.
They say that I am deranged
Because I fight murderous gunmen
With Facebook posts and poems.
They look at me and shake their heads.
They wonder who bewitched me.
I look at them and sigh.
Have we all been reduced to this?
Must one first fall mad
To speak truth to power
In this god-forsaken country?
From No Roses From My Mouth: Poems From Prison, Independently published, 2020
É preciso enlouquecer primeiro?
Neste país abandonado por Deus
as bocas dos homens estão caladas.
O medo paralisa-os.
A coragem das mulheres, esmorecida.
Os seus filhos, mortos ou presos.
Dizem que sou louca
por dizer publicamente verdades
que os anjos não ousam sussurrar.
Dizem que sou perturbada
por combater assassinos armados
com posts no Facebook e poemas.
Eles olham-me e abanam as cabeças.
Perguntam-se quem me terá enfeitiçado.
Olho-os de volta e suspiro.
Fomos todos reduzidos a isto?
Será preciso enlouquecer primeiro
para dizer a verdade ao poder
neste país abandonado por Deus?
Translated by Gisela Casimiro for Lisbon Revisited - poetry days
Exile: A Poem Of Hope
Exile – away from home!
Fleeing from political persecution,
Fleeing with a bag of just a few essentials,
Fleeing with my children on my back.
My two sons on one shoulder each
And my daughter on my back.
Fleeing from the murderers,
Fleeing from the abductors,
Fleeing from those who kidnap women and men
Simply because we are in the opposition.
Exile – a place to breath uuuu aaaah
Without fear of death,
Without fear of arrest.
Exile – a place to dream and dream again of liberation.
Exile – a place to tell stories of when we were home.
Remember, Baraka, when we were home.
Remember, Wasswa and Kato, when we were home.
Exile – a place to think about the dictators who have forced me to flee away
Just as my mother and father fled away when I was a child,
A young-young child.
Exile… exile…
They call me “an exilee.”
They call me “an asylum seeker.”
They call me “someone waiting for refugee status determination.”
They call me “a person who ran away from home.”
They didn’t say “ran away from home.” No, no, no, no, no!
They said, “she fled from home.”
And yes, I fled to exile:
Exile in Kenya,
Exile from Uganda to Kenya,
Exile in Africa…
An African in Africa – is that exile?
Is exile about Africans in Africa?
Exile – dreaming of home,
Thinking of home,
Wishing to be home.
The taste of matooke on my lips would be good,
But it’s a taste I am learning to forget too soon…
Huh, exile!
But exile will not be forever.
Exile is not forever.
Exile is not surrender.
Exile is just retreat to re-strategise.
To tell my child,
“I gave you the opportunity to start afresh.”
To tell my daughter,
“Now, you can go to college!”
“You want to go to London School of Economics? Child, you will go to
London School of Economics!”
To tell my son,
“You will have a mother everyday overseeing your homework and teaching
you those chess moves. You play chess, but you don’t play as well as you
would have played if you were playing against your mother every night!
To tell my other son,
“Hey, son, exile is a moment for you not to wait at night…”
Has Mama come home?
Will Mama come home?
Have the police taken Mama away?
Exile…
I am an exilee with a daughter aged sixteen,
And two twin sons aged thirteen.
And yet I am dreaming of a day when I will return home -
Not an exilee but a Ugandan living in Uganda,
An African living in Africa,
A world citizen living in the world.
I refuse your name as an exilee…
My name is Stella Nyanzi.
From Exiled for My Mouth: Poems From Across Borders, Independently published, 2025
Exílio: Um Poema de Esperança
Exílio — longe de casa!
Fugindo da perseguição política,
Fugindo com apenas alguns itens essenciais na mala,
Fugindo com os meus filhos às costas.
Os meus dois filhos, um em cada ombro,
E a minha filha às costas.
Fugindo dos assassinos,
Fugindo dos sequestradores,
Fugindo daqueles que raptam mulheres e homens
Apenas por sermos da oposição.
Exílio — um lugar para respirar uuuu aaaah
Sem medo da morte,
Sem medo da prisão.
Exílio — um lugar para sonhar e sonhar de novo com a liberdade.
Exílio — um lugar para contar histórias de quando estávamos em casa.
Lembra-te, Baraka, de quando estávamos em casa.
Lembrem-se, Wasswa e Kato, de quando estávamos em casa.
Exílio — um lugar onde pensar nos ditadores que me obrigaram a fugir para longe,
Tal como a minha mãe e o meu pai fugiram quando eu era criança,
Uma criança muito pequena.
Exílio... exílio...
Chamam-me «exilada.»
Chamam-me «requerente de asilo.»
Chamam-me «alguém à espera da determinação do estatuto de refugiada.»
Chamam-me «uma que escapou de casa.»
Não disseram «fugiu de casa.» Não, não, não, não, não!
Disseram, «ela escapou de casa.»
E sim, eu escapei para o exílio:
Exílio no Quénia,
Exílio do Uganda para o Quénia,
Exílio em África...
Uma africana em África — é isso, o exílio?
O exílio é sobre africanos em África?
Exílio — sonhar com casa,
Pensar em casa,
Desejar estar em casa.
O sabor do matooke nos meus lábios seria tão bom,
Mas é um sabor que estou a aprender a esquecer demasiado cedo...
Huh, exílio!
Mas o exílio não será para sempre.
O exílio não é para sempre.
O exílio não será rendição.
Exílio é apenas recuar para redefinir estratégias.
Para dizer ao meu filho,
«Dei-te a oportunidade de recomeçar.»
Para dizer à minha filha,
«Agora, podes ir para a universidade!»
«Queres ir para a London School of Economics? Filha, vais para a London School of
Economics!»
Para dizer ao meu filho,
«Terás uma mãe todos os dias a acompanhar os teus trabalhos de casa e a ensinar-te as
jogadas de xadrez. Jogas xadrez, mas não tão bem como jogarias se jogasses contra a tua
mãe todas as noites!»
Para dizer ao meu outro filho,
«Ei, filho, o exílio é um momento para não esperares à noite...»
A mãe voltou para casa?
A mãe voltará para casa?
A polícia levou a mãe?
Exílio...
Sou uma exilada com uma filha de dezasseis anos,
E dois filhos gémeos de treze.
E, no entanto, sonho com o dia em que regressarei a casa —
Não como exilada, mas como ugandesa a viver no Uganda,
Uma africana a viver em África.
Uma cidadã do mundo a viver no mundo.
Recuso esse vosso nome, exilada...
O meu nome é Stella Nyanzi.
Translated by Gisela Casimiro for Lisbon Revisited - poetry days.
My Daughter Bought A Dirndl
My daughter bought a pretty dirndl.
Bright white lacy petticoats peep out,
Sticking out of the hem of her tiny skirt
Checked black and white and black and white and black and white.
The plain white blouse has short bell sleeves
And a checked bust crisscrossed with a black braid held by bejeweled
silver.
Sometimes she wears a plain black pinafore over the skirt.
While I struggle with longings for home,
My beautiful black African daughter is at home in Bavaria in her pretty
dirndl.
She straddles her bicycle and rides all over Munich city in her dirndl.
While I continue wearing only my old kitenge clothes from home,
My beautiful daughter plans to make a new dirndl out of bright coloured
kitenge.
As adults struggle making exile home,
Children quickly embrace home in exile.
My daughter bought a pretty dirndl.
From Exiled for My Mouth: Poems From Across Borders, Independently published, 2025
A minha filha comprou um dirndl
A minha filha comprou um bonito dirndl.
Anáguas rendadas, brancas e brilhantes, espreitam,
despontam da bainha da sua saia minúscula,
num xadrez preto e branco, preto e branco, preto e branco.
A blusa branca lisa tem mangas curtas em boca de sino,
e um corpete axadrezado entrecruzado, com uma trança preta presa por jóias prateadas.
Às vezes, ela usa um avental preto liso sobre a saia.
Enquanto eu luto com as saudades de casa,
a minha linda filha negra africana está em casa, na Baviera, no seu bonito dirndl.
Ela monta a sua bicicleta e pedala por toda a cidade de Munique no seu dirndl.
Enquanto eu continuo a vestir apenas as minhas velhas roupas quitengue de casa,
a minha linda filha planeia fazer um novo dirndl de quitengue, em cores vibrantes.
Enquanto os adultos lutam para fazer do exílio um lar,
As crianças depressa aceitam o lar no exílio.
A minha filha comprou um bonito dirndl.
Translated by Gisela Casimiro for Lisbon Revisited - poetry days
Racial Profiling
Three black teenagers,
Recent arrivals in Bavaria,
Standing in the daunting Central Station,
Standing close together in the crowd,
Standing with backpacks on their backs,
Standing patiently waiting for a train,
Standing without raising suspicion…
Three white armed policemen,
Officers of the German Polizei,
Walk as straight as bullets,
Walk past all the other travelers,
Walk determinedly without faltering,
Walk right in front of my children,
Walk about racial profiling us…
The three adult police officers take and open
The three backpacks of
The three black teenagers.
Nobody moves.
Nobody talks.
Everybody stares.
In the first backup: books, pencils, water and fruit.
In the second backup: books, pencils, water and fruit.
In the third backup: books, pencils, water and fruit.
The train to school approaches.
Shaken, my children travel to school.
From Exiled for My Mouth: Poems From Across Borders, Independently published, 2025
Perfil racial
Três adolescentes negros,
Recém-chegados à Baviera,
Parados na intimidante Estação Central,
Parados juntos na multidão,
Parados de mochilas às costas,
Pacientemente à espera do comboio,
Sem levantar suspeitas...
Três polícias brancos armados,
Agentes da polícia alemã,
Caminham rectos como balas
Passam por todos os outros viajantes,
Caminham determinados, sem vacilar,
Caminham mesmo à frente dos meus filhos,
Fazendo o nosso perfilamento racial...
Os três polícias adultos confiscam e abrem
as três mochilas dos
três adolescentes negros.
Ninguém se mexe.
Ninguém fala.
Todos olham fixamente.
Na primeira: livros, lápis, água e fruta.
Na segunda: livros, lápis, água e fruta.
Na terceira: livros, lápis, água e fruta.
O comboio para a escola aproxima-se.
Abalados, os meus filhos viajam para a escola.
Translated by Gisela Casimiro for Lisbon Revisited - poetry days
Queer Death In Africa
Oh death,
Sweet death – our destiny!
I’d have no problem with you
If you waited for many long decades,
If you carried me peacefully as I slept,
If you took me painlessly,
Gently, tenderly...with dignity
But alas, death,
Queer death in Africa is harsh.
Shush – don’t argue with me.
David Kato’s head was hit by a hammer.
His brain matter sat warm on the cold floor
As David struggled for his last breaths.
This violent murder
At the hands of his lover
Struck fear in the hearts of all queers.
Queer death in Africa is harsh.
Shush – don’t argue with me.
Trinidad Jerry was burnt to death.
A petrol bomb was hurled into the bare shelter.
Hot flames burnt up both Trinidad and Jordan.
Their third-degree burns went untreated for days.
Two queer refugees burnt up during asylum.
When Trinidad died
All queer Africans cried.
Shush – don’t argue with me.
Trinidad Jerry was burnt to death.
A petrol bomb was hurled into the bare shelter.
Hot flames burnt up both Trinidad and Jordan.
Their third-degree burns went untreated for days.
Two queer refugees burnt up during asylum.
When Trinidad died
All queer Africans cried.
Queer death in Africa is harsh.
Shush – don’t argue with me.
Edwin Chiloba was smothered to death.
His mouth was stuffed with dirty socks.
His face was tied with a strip of denim jean.
His long corpse was stuffed into a metal box.
The metal box was dumped on a dusty roadside.
Dead and abandoned in a metal box by the roadside.
This crime of passionate rage
Gave Africa’s queers outrage!
Queer death in Africa is harsh.
Shush – don’t argue with me.
Sheila Lumumba was found at home dead mysteriously.
Dead mysteriously?
Mysteriously dead?
What murderers first gang-rape?
Why break a leg and stab all over?
Another statistic?
Another hashtag?
Another violent queer death in Africa…
Queer death in Africa is harsh.
Shush – don’t argue with me.
Fanny Ann Eddy was murdered in her office.
Working late one night, she was attacked.
Her murderers tried to silence her.
She who said, “Silence creates vulnerability.”
She broke the silence about queer Africans,
She met a violent death while at work.
Oh death,
Bitter death – our testimony!
When will Africa’s queers
Live without a violent death’s fears?
From Exiled for My Mouth: Poems From Across Borders, Independently published, 2025
Morte queer em África
Ó morte,
Doce morte – nosso destino!
Não teria problemas contigo
Se tivesses esperado longas décadas,
Se me tivesses embalado quando dormia em paz,
Se me tivesses levado sem dor,
Gentilmente, ternamente... com dignidade!
Mas, ai de mim, a morte,
A morte queer em África é cruel.
Caluda – não discutas comigo.
David Kato foi atingido na cabeça com um martelo.
A sua massa encefálica jazia quente no chão frio,
E David lutava pelos seus últimos suspiros.
Este homicídio violento
Às mãos do seu amante
Alastrou o medo nos corações de todas as pessoas queer.
A morte queer em África é cruel.
Caluda – não discutas comigo.
Trinidad Jerry foi queimado vivo.
Uma bomba de gasolina foi lançada no abrigo indefeso.
Chamas ardentes queimaram Trinidad e Jordan.
As queimaduras de terceiro grau ficaram dias sem tratamento.
Dois refugiados queer queimados durante o asilo.
Quando Trinidad morreu,
Todas as pessoas queer africanas choraram.
A morte queer em África é cruel.
Caluda – não discutas comigo.
Edwin Chiloba foi sufocado até à morte.
A sua boca foi tapada com meias sujas.
O seu rosto foi amarrado com uma tira de ganga.
O seu longo cadáver foi enfiado numa caixa de metal.
A caixa de metal foi jogada numa estrada poeirenta.
Morto, abandonado numa caixa de metal à beira da estrada.
Este crime de paixão enraivecida
provocou a indignação das pessoas queer africanas!
A morte queer em África é cruel.
Caluda – não discutas comigo.
Sheila Lumumba foi encontrada em casa, morta misteriosamente.
Morta misteriosamente?
Misteriosamente morta?
Que assassinos primeiro violam em grupo?
Porquê partir uma perna e esfaquear o corpo todo?
Mais uma estatística?
Mais uma hashtag?
Mais uma morte queer violenta em África...
A morte queer em África é cruel.
Caluda – não discutas comigo.
Fanny Ann Eddy foi assassinada no seu escritório.
Trabalhava até tarde, na noite em que foi atacada.
Os assassinos tentaram silenciá-la.
A ela, que disse: «O silêncio cria vulnerabilidade.»
Ela quebrou o silêncio sobre as pessoas queer africanas,
E encontrou uma morte violenta no trabalho.
Ó morte,
Amarga morte – nosso testemunho!
Quando poderão as pessoas queer africanas
Viver sem temer uma morte violenta?
Translated by Gisela Casimiro for Lisbon Revisited - poetry days