Programa Especial · Debate · COLÓQUIO

Novos Estudos Pessoanos'19 Ponto de situação

14 fev 2019 · 10:30 – 17:30

Auditório da Casa Fernando Pessoa
Entrada livre

Dois anos após o Congresso Internacional Fernando Pessoa reunimo-nos para acompanhar a investigação feita no campo dos estudos sobre Pessoa. Neste encontro anual aberto a todos, os investigadores apresentam, em vários painéis de discussão, publicações recentes e estudos desenvolvidos no último ano. 

 

PROGRAMA

ABERTURA | 10H30

Clara Riso – Directora da Casa Fernando Pessoa
 

10H45 - 12H00
MESA 1 - Trabalhos em curso nas colecções da CFP
Moderação: Pedro Sepúlveda

Teresa Monteiro
Doação José Blanco – tratamento e digitalização

Passados três anos sobre a apresentação pública da Doação José Blanco, faz-se um ponto de situação sobre os trabalhos desenvolvidos em torno desta colecção.

Reflectimos sobre o que temos, o que fizemos, que dificuldades encontrámos e como as superámos, e onde queremos chegar. É um projecto de continuidade.

Neste âmbito destacamos a parceria com a Universidade Nova, IELT – Instituto de Estudos de Literatura e Tradição, como marco de boas relações institucionais e a ligação da Casa a uma área que lhe é muito cara: o apoio à investigação pessoana.

 

Pedro Azevedo
A avaliação da Biblioteca Particular de Fernando Pessoa: critérios e dificuldades

No início da intervenção serão abordados, de forma sucinta, os principais factores de valorização (positiva ou negativa), habitualmente utilizados na avaliação de documentos impressos. Segue-se uma breve caracterização do universo avaliado, constituído pelos perto de 1200 títulos que compõem a Biblioteca particular de Fernando Pessoa.

Depois de um esclarecimento sobre os critérios, previamente definidos, que estiveram na base da atribuição dos valores individuais, serão apresentados, com recurso a imagens, exemplos de documentos das diferentes tipologias, bem como alguns casos que, pelas suas particularidades, se revelaram de especial dificuldade.

 

Teresa Filipe
Pessoa, tradutor sucessivo de Shakespeare

A Biblioteca Particular de Fernando Pessoa possui um exemplar de The Tempest, de William Shakespeare, de 1908, adquirido em Lisboa na livraria inglesa de M. Lewtas & M. Taboada, situada na Rua do Arsenal. Este exemplar encontra-se assinado por Fernando Pessoa e exibe anotações em 102 das suas 141 páginas, a maioria das quais são tentativas de tradução para português da peça do dramaturgo inglês. As anotações foram efectuadas com pelo menos 4 diferentes instrumentos de escrita, e a presença de numerosas emendas e variantes sugere que o autor o terá usado como exemplar de trabalho para diferentes campanhas de escrita e revisão da tradução. Diversos documentos do espólio do autor, à guarda da Biblioteca Nacional de Portugal, atestam que o projecto de tradução e publicação de The Tempest terá ocupado Pessoa, intermitentemente, pelo menos até 1923. Nesta apresentação, discutiremos aspectos documentais do exemplar e tentaremos acercar-nos de uma cronologia das campanhas de escrita abordando algumas das dificuldades na edição destas anotações.

 

12H15 - 13H30
MESA 2 - Biblioteca esotérica e religiosa de Fernando Pessoa
Moderação: Antonio Cardiello

Rita Catania Marrone
Uma descoberta recente na Biblioteca de Fernando Pessoa: a segunda cópia de Magick de Aleister Crowley 

A biblioteca esotérica de Fernando Pessoa é habitada por fantasmas – e não apenas pelo facto de ser obviamente esotérica, mas também porque alguns dos livros que o poeta consultou, que leu e que estão reconhecidamente na base das suas reflexões já não se encontram nas estantes do acervo livreiro à guarda da Casa Fernando Pessoa. É o caso, por exemplo, da valiosa cópia do tratado alquímico Ennoea, ou applicação do entendimento sobre a pedra philosophal, datado 1732, que desapareceu misteriosamente depois de 1980, sem deixar rastos. Diferente, e de alguma forma ainda mais misterioso, é o caso da reencontrada cópia de Magick in Theory and Practice, de Aleister Crowley: apresentar-se-ão a história e as peculiaridades deste precioso exemplar, que emergiu out of the blue depois de anos de esquecimento.

Steffen Dix
Necessidade de uma reclassificação da biblioteca particular de Fernando Pessoa

Um dos instrumentos fundamentais nos estudos pessoanos consiste na possibilidade de consultar a biblioteca particular do poeta que está, deste 2010, disponível na forma digitalizada. Este trabalho notável adoptou a classificação original com que foi publicado, em 1996, no número zero da revista Tabacaria. Nesta classificação, que nasceu de um trabalho pioneiro, surgiu a necessidade de fazer algumas rectificações profundas. Esta comunicação pretende explicar a necessidade destas rectificações, sobretudo a partir de um estudo da “biblioteca religiosa” de Fernando Pessoa. Embora a maioria dos livros desta biblioteca tenham sido classificadas correctamente, na Classe 2, sob a designação Religião. Teologia (títulos: 75; volumes: 83), temos de sublinhar o facto existirem vários livros noutras categorias que pertencem claramente a esta classe. Um outro ponto fraco nesta classificação antiga consiste sobretudo no facto que a religião ser um fenómeno muito vasto e que se deixa definir com alguma dificuldade. Ou seja, seria desejável encontrar uma solução que permitisse uma espécie de sub-classificação em temáticas diferentes, tais como Cristianismo, Ocultismo, Religião Antiga, etc. Assim, o objectivo principal desta apresentação reside numa tentativa de apresentar uma classificação mais sistemática da “biblioteca religiosa” de Fernando Pessoa.

 

ALMOÇO  | 13H30 - 15H00

 

15H00 - 16H30
MESA 3 - Identidades cosmopolitas
Moderação: Nuno Amado

Fernando Beleza
Pessoa, cosmopolitismo e império

O impulso cosmopolita que moldou a geração do Orpheu tem sido abordado recentemente pela crítica. Particular atenção tem sido dada à dimensão semiperiférica que moldou esse mesmo impulso e ao desejo de abertura da cultura nacional que lhe estava subjacente, especialmente nas produções literárias de Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro. A contribuição importante que esta corrente crítica deu recentemente aos estudos pessoanos aponta para a necessidade de continuar a ler criticamente o cosmopolitismo de Pessoa, procurando agora aprofundar o conhecimento sobre as várias dimensões teóricas desse pensamento, bem como o seu lugar na longa tradição de articulações de identidades cosmopolitas, desde os estoicos, passando por Kant e indo até à relevância da sensibilidade cosmopolita para teorizadores pós-coloniais como Paul Gilroy e Homi Bhabha. Esta comunicação examinará em detalhe a relação entre cosmopolitismo, império e colonialismo em Fernando Pessoa.​​​​​​​

Carlos Pittella
Perdidos & Achados: editar a biografia pessoana de Hubert Jennings​​​​​​​

O livro Fernando Pessoa—The Poet With Many Faces, de autoria de Hubert D. Jennings, é a primeira biografia pessoana em Inglês.  Originalmente escrito na década de 1970, o livro deveria ter sido impresso em 1974, mas a Revolução dos Cravos interrompeu os planos editoriais.  O dactiloscrito, encontrado numa garagem em Joanesburgo, na África do Sul, é enfim publicado em Portugal.  Carlos Pittella, o editor da biografia e investigador do arquivo Jennings na Brown University, discute a importância do livro para os estudos pessoanos e apresenta os desafios de edição do texto, incluindo: 1) como localizar os manuscritos referenciados no livro entre os milhares de documentos do espólio pessoano; 2) em que medida ajustar as traduções feitas por Jennings dos poemas de Pessoa, baseadas em edições obsoletas; 3) quando intervir num texto do século XX e/ou deixar notas a um leitor do século XXI.​​​​​​​

 

ENCERRAMENTO | 17H00

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Notas biográficas dos intervenientes: 

Antonio Cardiello é investigador bolseiro da FCT com um projecto  de  pós doutoramento  no  Instituto  de Filosofia  da  Universidade Nova  de  Lisboa (IFILNOVA)  onde  é  membro  integrado  do grupo  de  pesquisa  “Questões da Subjectividade:  Filosofia  e  Literatura”.  As  suas  principais  áreas  de  estudo  são as perspectivas comparadas entre tradições filosóficas ocidentais e orientais e a filosofia de  Fernando  Pessoa,  com  particular  interesse no seu Neopaganismo. Co-director do projecto  de  digitalização  da  Biblioteca Particular de Fernando Pessoa (on-line desde 2010), editou "Una Stirpe incognita" (EDB Edizioni,  2016)  e co-editou  "Nietzsche  e Pessoa.  Ensaios"  (Tinta-da-china,  2016), "Philosophy  in the Condition  of  Modernism" (Palgrave Macmillan, 2018) e a primeira edição crítica  de "Obra  Completa  de  Álvaro  de Campos" (Tinta-da-china, 2014).    

Carlos Pittella é poeta e investigador. Após estudar jornalismo,  fez  o  seu mestrado e  doutoramento em Letras na PUC-Rio. Pela Tinta-da-china, co-escreveu "Como Fernando  Pessoa Pode Mudar  a  Sua  Vida"  (2017),  além  de  editar o "Fausto de Pessoa" (2018) e a biografia "Pessoa na  escrita  por  Hubert Jennings", "Fernando Pessoa,  The  Poet  with  Many  Faces" (2019). Publicou "Civilizações Volume Dois",  seu  primeiro livro de poesia, em Coimbra (2005) e foi professor titular  do  Global  Citizenship Experience em Chicago, onde trabalhou de 2010 a 2014. Pittella adora viajar explorando arquivos  e  contribui  regularmente para  a 
revista  Pessoa  Plural.  Actualmente,  trabalha como investigador associado na Brown University e é membro integrado do Centro de  Estudos  de  Teatro  da Universidade  de Lisboa.

Fernando Beleza é  professor  Auxiliar  na  Universidade  de Newcastle,  no  Reino Unido.  É  co-editor  do volume de ensaios "Mário de Sá-Carneiro, a Cosmopolitan Modernist" (Peter Lang, 2017) e autor de vários ensaios e capítulos de livros no campo dos estudos culturais lusófonos. Tem publicado artigos e capítulos de livros sobre  Fernando  Pessoa,  cosmopolitismo(s) modernistas,  raça, género  e  sexualidade nas  literaturas  e  culturas  (pós)coloniais  lusófonas e ecologias luso-afro-brasileiras.

Nuno Amado é  professor  na  Universidade  Católica Portuguesa. Completou o seu doutoramento no  Programa  em  Teoria  da  Literatura,  da Faculdade  de  Letras da Universidade  de Lisboa,  com  uma  tese  intitulada  "Ricardo Reis (1887-1936)". Em 2008, obteve no mesmo Programa em Teoria de Literatura o grau de Mestre com  uma  dissertação  sobre  Franz Kafka.  Faz  parte  da  equipa  do  projecto Estranhar Pessoa.

Pedro Azevedo nasceu em Lisboa, onde, desde 1976, é livreiro-antiquário especializado  na  organização de leilões de livros, manuscritos e gravuras, tendo  sido  responsável  pela  realização  de mais de 60 leilões nos últimos 40 anos. Desde 2009, tem colaborado como perito na empresa Cabral Moncada Leilões. Paralelamente, tem exercido a actividade de avaliador de bibliotecas e arquivos, públicos e privados, destacando-se a colaboração com a Fundação Calouste Gulbenkian, Fundação da  Casa  de  Bragança, Fundação Ricardo Espírito Santo  Silva,  Biblioteca  Nacional, Torre  do  Tombo,  Palácios Nacionais de Mafra e Queluz, Faculdades de Medicina, de Letras  e  de Direito da Universidade de Lisboa, Bibliotecas  Municipais  e  outras instituições. Os seus serviços de peritagem têm igualmente  sido  solicitados  pela  Polícia Judiciária, Tribunais  Judiciais  de  Lisboa,  Associação Portuguesa  dos  Editores  e Livreiros  e Associação Portuguesa de Antiquários. Investigador de História do Livro, com larga experiência internacional, é, desde 2008, um dos  50  Membres d'Honneur  da  "Association  Internacionale  de  Bibliophilie"  com  sede  na  Biblioteca Nacional de Paris.Em  2016  foi  encarregado  da  avaliação  da Biblioteca Particular de Fernando Pessoa.

Pedro Sepúlveda é  professor  Auxiliar  no  Departamento  de Estudos Portugueses da  Faculdade  de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e investigador do Instituto de Estudos  de  Literatura  e  Tradição  da  mesma  faculdade. O seu trabalho centra-se na modernidade literária e filosófica, com acento particular  na  obra  de  Fernando  Pessoa. Publicou o ensaio decorrente da sua dissertação  de  doutoramento,  Os  livros  de "Fernando  Pessoa"  (Ática, 2013),  e  o  estudo antológico  "O  planeamento  editorial  de Fernando  Pessoa"  (em  co-autoria  com  Jorge Uribe, INCM, 2016). Coordena o projecto de  investigação  "Estranhar  Pessoa",  financiado pela  FCT  entre  2013  e  2015 (estranharpessoa.com),  e  a  edição  digital  dos  projectos editoriais e publicações em vida de Pessoa (pessoadigital.pt).  

Rita Catania Marrone licenciou-se  em  Filosofia e é Mestre em Ciências Filosóficas,  pela  Università    degli  Studi    di    Milano,    com    a    dissertação  "Sentieri    di    Gnosi  nell’opera  di  Fernando Pessoa"  [Caminhos  de  Gnose  na obra  de Fernando  Pessoa].  Foi  colaboradora  da Cátedra  de  História  da Filosofia  I  (2012-2014), na mesma universidade. Actualmente é  membro  do Centro  de  Literatura Portuguesa (CLP) da Faculdade de Letras da Universidade  de Coimbra  e  doutoranda  do Programa  de  Doutoramento  em  Estudos  Avançados em  Materialidades  da  Literatura (com  financiamento  da  FCT  até  Outubro 2018). No âmbito do seu doutoramento, está a desenvolver um projecto sobre a biblioteca esotérica de Fernando Pessoa.

Steffen Dix formou-se  em  Ciência  das  Religiões  (enquanto  cadeira  principal, com  especialização em Fenómenos Religiosos na Literatura Europeia), Filosofia e Filologia Portuguesa, e  doutorou-se  na  Universidade  de  Tübingen  em Ciência das Religiões.Nos últimos anos trabalhou no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-UL), paralelamente sobre o  modernismo em Fernando  Pessoa  (nomeadamente em relação aos seus escritos teóricos) e sobre  a  teoria  da  secularização. No que diz respeito a estes dois interesses científicos organizou diversos eventos académicos, em Portugal  e  no  estrangeiro, participou  em projectos internacionais e divulgou as suas pesquisas em revistas académicas ou editoras  internacionais.  Está  a  organizar  a  edição da "Obra Completa de Fernando Pessoa na Alemanha" (no Fischer-Verlage; Frankfurt am Main).Actualmente  é  coordenador  executivo  do Centro  de  Investigação  em Teologia  e Estudos  de  Religião  na  Universidade Católica  Portuguesa  (CITER-UCP)  onde  desenvolve  pesquisas  sobre  a  relação  entre  o modernismo e as transformações religiosas no século XX. Das suas últimas publicações e edições destacam-se a edição fac-similada da  revista  "Orpheu" (Tinta-da-china, 2015), "Fernando  Pessoa  –  Orpheu:  Schriften  zur Literatur,  Ästhetik  und  Kunst" (Fischer-Verlage,  2015)  ou  "Modernismos  portugueses 1915-1917: Contextos, Facetas e Legados da geração  Orpheu", (número  especial  da  revista “Pessoa Plural”, 2017, com Patrícia Silva).  

Teresa Filipe é  bolseira  de  doutoramento  da  FCT  (SFRH/BD/118378/2016) em Crítica Textual com um projecto intitulado Estudo e edição digital da marginália de Fernando Pessoa, Centro de Linguística  da  Universidade  de  Lisboa. Licenciada em Filosofia (2010) e Mestre em Filosofia Contemporânea (2012) pela Universidade de Évora. Bolseira de investigação  no  “Projecto  de  Edição  das Obras Completas de Eduardo Lourenço”, Fundação Calouste Gulbenkian Universidade de Évora (2010-  2015).  É  autora  de  "Metafísica  da Revolução. Poética e Política no Ensaísmo de Eduardo  Lourenço"  (2013) e co-tradutora  de "O Nomear e a Necessidade,  de  Saul  Kripke" (2012).

Teresa Monteiro foi  Bibliotecária na  ex-Direcção-Geral  de Transportes Terrestres, no Serviço de Documentação e Informação, e na  Câmara Municipal de Lisboa, onde coordenou o Centro de Documentação do Edifício Central do  Município, o Serviço de Tratamento Técnico da Rede de Bibliotecas de Lisboa e a Biblioteca Municipal  de  São  Lázaro.  Desde 2010 é bibliotecária na Casa Fernando Pessoa.